Após o seu discurso recheado de críticas ao governo na abertura dos trabalhos do Legislativo, o deputado Arthur Lira (PP-AL), comandante da Câmara, conversou pessoalmente com o presidente Lula. Eles “zeraram” a relação, segundo interlocutores de ambos, e selaram um acordo de paz que, se cumprido à risca, pode levar à aprovação de projetos importantes e, assim, render frutos aos dois políticos.
A parceria parece bem encaminhada, mas há uma articulação que pode desestabilizá-la: a eleição para a sucessão de Lira na presidência da Câmara, que só será realizada em fevereiro do próximo ano, mas já fervilha nos bastidores e terá peso decisivo no trabalho da Casa neste ano. Para manter poder e influência ao deixar o cargo, Lira sabe que precisa fazer o seu sucessor. Se isso ocorrer, ele pavimentará o caminho para se tornar ministro, caso queira, e concorrer ao Senado por Alagoas em 2026. Poderá até mesmo ser vice numa chapa presidencial.
Pressão sobre o Planalto
Na sexta-feira, 23, Lira deu a entender que já fechou um acordo com Lula sobre o tema. “O presidente tem a vontade dele e o direito dele de tentar fazer o sucessor dele, como eu tenho a minha pretensão, ouvindo todos os líderes partidários e amigos na Câmara, de fazer o nosso sucessor”, disse Lira. “O presidente Lula disse que estará junto desse projeto de acompanhar para que eu tenha o direito de fazer o meu sucessor, e o PT não pensará diferente, porque não tem motivos”, acrescentou.
Um acordo de Lira com Lula tornaria o nome escolhido por eles praticamente imbatível. Aliados do presidente dizem, no entanto, que esse acerto ainda não foi fechado — nem será firmado tão cedo. Se o deputado tem pressa, o presidente joga com o tempo. Em público, Lula costuma dizer que o governo não tentará influenciar a disputa pelo comando do Congresso, que seria um assunto exclusivo do Legislativo. Na prática, ele vai decidir o que fazer na virada de 2024 para 2025, levando em consideração uma série de fatores, como o saldo da relação com a Câmara, o desempenho da economia e até o apoio parlamentar e popular ao governo.
Se estiver forte o suficiente para ditar o rumo da eleição na Câmara, Lula assim o fará, podendo ou não ajudar o candidato de Lira. Hoje, o nome preferido do deputado para sucedê-lo é do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, já disse que o partido pode lançar uma candidatura própria. Setores petistas acham mais provável, no entanto, a bancada apoiar o líder do PSD na Casa, Antonio Brito, ou o deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, que tem se aproximado de Lula.
A relação do petista com Lira é marcada por tensão e desconfiança, mas, como os dois são pragmáticos, também é de parceria. O desafio de Lula é evitar que a sucessão na Câmara imploda essa ponte.
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