Sem citar diretamente a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Eleitoral, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu nesta segunda-feira o conjunto de medidas que criam e ampliam os benefícios sociais a menos de três meses das eleições. A principal ação da PEC é o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 em caráter temporário, até o fim do ano.
– Passa um bom tempo dizendo fome, fome… As pessoas estão cozinhando em fogão a lenha e aí, quando você faz a transferência de renda, que é a medida correta para quem tá comendo a lenha voltar a usar o botijão de gás, para quem tá comendo a lenha voltar a poder comprar bens no supermercado, é eleitoreiro, eleitoreiro. Então deixa a pessoa morrer de fome? Eleição não tem nada a ver com as transferências de renda que nós temos e nós já tínhamos feito com a ocasião da doença e fizemos agora com a ocasião da guerra – afirmou o ministro, durante a posse do novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta segunda-feira.
Analistas ponderam, porém, que a PEC pode ter efeito positivo sobre a atividade no curto prazo, mas tende a pressionar a inflação adiante. Nesta segunda-feira, economistas ouvidos pelo Banco Central na pesquisa Focus reduziram sua previsão para o IPCA deste ano, o índice oficial de inflação, mas elevaram suas apostas para 2023, refletindo em parte o impacto da PEC.
Para o ministro da Economia, o Brasil está dessincronizado do resto do mundo e uma sucessão de erros vem sendo cometida sobre o prognóstico para o crescimento econômico brasileiro.
Segundo Guedes, o Brasil está mais bem posicionado para enfrentar o cenário adverso da economia no exterior que, segundo ele, estaria passando por um cenário de estagflação.
– O mundo está no fim de um longo ciclo de crescimento. É completamente diferente do Brasil. O Brasil está no início de um longo ciclo de crescimento. Tenho insistido nisso e isso explica os erros de previsão sucessivos que têm sido feitos a respeito do Brasil aqui dentro e lá fora.
Guedes destacou o fato de o Banco Central (BC) ter se antecipado no processo de aperto monetário em relação ao que tem sido feito nas economias desenvolvidas, que só passaram a aumentar os juros neste ano.
Ele ressaltou que já vinha alertando para a piora do cenário macroeconômico mundial há pelo menos três anos e que a realidade atual é pior do que se imaginava.
– Nós fizemos reformas durante toda a pandemia. Preveem que o Brasil não vai crescer e o Brasil volta em V, como dissemos que iria voltar – disse o ministro, destacando que os erros de previsão ocorrem por um pouco de “militância” e de “despreparo”.
Durante sua fala, Guedes ressaltou números positivos da economia brasileira, como a revisão para baixo de expectativas de inflação, e a melhora nos dados do mercado de trabalho.
Segundo o ministro, as previsões negativas sobre a economia brasileira têm relação com questões políticas e de desinformação, pois os dados indicam outra direção.
– Não há como não crescer, o Brasil está condenado a crescer. A inflação pode ser até um pouquinho maior do que vocês imaginavam, mas o crescimento está contratado. Vamos ter 100 milhões de brasileiros trabalhando até o fim do ano. Os dados reais são renda e emprego para cima, inflação e desemprego para baixo – disse o ministro.
Embora as expectativas para o PIB tenham sido revistas pelos bancos, as instituições já esperam crescimento próximo de zero em 2023, com uma deterioração do cenário, pressionado por aumento de juros e de gastos.
‘Saindo do caminho da miséria’
Sobre o cenário exterior, o ministro afirmou que os custos começaram a subir, em meio a um ambiente de choque de oferta, com possibilidade de recessão e aumento da inflação.
Guedes ainda afirmou que o Brasil está “saindo do caminho da miséria” enquanto “outras economias estão tentando chegar, vizinhos nossos aqui”. Ele não citou o nome das nações.
Na avaliação de Guedes, o Brasil está bem preparado para enfrentar o cenário atual, pois possui requisitos exigidos pelos players globais, como proximidade e confiança.
– Nós somos amistosos, somos amigáveis e estamos muito perto do Ocidente. A Europa precisa do Brasil para garantir sua segurança energética. O Brasil é perto e confiável. Vai ser a grande nação que vai receber esses investimentos no futuro em uma industrialização diferente.