Nove pessoas morreram no acampamento “Terra e Liberdade”, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Parauapebas, Sudeste do Pará. Após uma antena de internet que estava sendo instalada por uma empresa de telecomunicação cair sobre fios da alta tensão, uma descarga elétrica atingiu os que estavam no local e também provocou um incêndio. Foram seis mortos do acampamento e três trabalhadores da empresa, segundo o Instituto Médico Legal (IML).
Sete feridos, com queimaduras leves, foram levados ao hospital, mas já liberados. Apenas um, com queimaduras de segundo grau, segue internado. Seu quadro é estável.
De acordo com o MST, que concedeu uma coletiva de imprensa na tarde deste domingo (10), as famílias do acampamento transmitiram aos funcionários preocupação sobre as condições em que o serviço estava sendo realizado, uma vez que eles estavam cumprindo uma jornada longa e extenuante. Por volta das 20h, a antena caiu sobre a rede elétrica, provocando uma explosão e energizando uma cerca que levou à eletrocussão.
A G5 Internet, responsável pela instalação, não respondeu ao contato do UOL. O MST diz que não contratou os serviços da empresa, tendo sido uma iniciativa de alguns acampados que precisavam de conexão. A empresa não teria prestado apoio após o ocorrido.
“Estamos em uma tristeza enorme, ainda mais porque hoje é Dia Internacional dos Direitos Humanos”, afirmou à coluna o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues. “Amanhã, nós vamos nos despedir de nossos companheiros e companheiras em um velório e um enterro coletivo.”
Dos nove mortos, oito foram identificados até agora, segundo o MST: Eva Maria da Conceição Silva, Fernanda Sousa de Almeida, Francisco De Assis Pereira Rodrigues, Francisco Ferreira, Francisco Nascimento de Sousa Júnior, Gabriel Pereira da Silva, Geovane Pereira dos Santos e Jovenilson Aragão Trindade.
A coluna também conversou com Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, que está indo a Parauapebas a fim de participar do velório e prestar solidariedade às famílias. Ele informou que estava com a viagem marcada ao Pará para tratar da questão da disputa de terras envolvendo o Terra e Liberdade.
Cerca de mil famílias estão acampadas há três semanas, exigindo a vistoria das fazendas Santa Maria e Três Marias, que acusam ser fruto de grilagem da família Miranda, e o cadastramento delas para reforma agrária. A ocupação, contudo, não está nessas propriedades. As demandas foram apresentadas em reunião com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em Marabá.
O presidente Lula prestou solidariedade em suas redes sociais. “Estamos trabalhando para avançar na retomada da reforma agrária, com a identificação de terras públicas disponíveis, para, após anos de paralisação, dar oportunidade de trabalho e produção para famílias do campo”, afirmou.
Meus sentimentos e solidariedade aos técnicos e aos acampados do Terra e Liberdade, em Paraupebas, Pará, pelo acidente em uma linha de transmissão seguido de um incêndio no acampamento que deixou mortos e feridos. Estamos trabalhando para avançar na retomada da reforma agrária,…
— Lula (@LulaOficial) December 10, 2023
O governador Helder Barbalho também lamentou o acidente e disse que o governo está prestando apoio ao município. “Lamento profundamente o ocorrido e informo que o Corpo de Bombeiros já apura as causas desta tragédia”, afirmou. A coluna tentou contato com a Secretaria de Segurança Pública do Pará e com a Polícia Civil, mas não teve retorno.
Quero me solidarizar com familiares e amigos das vítimas do incêndio no acampamento Palmares II do MST, em Parauapebas, na noite deste sábado. Lamento profundamente o ocorrido e informo que o Corpo de Bombeiros já apura as causas desta tragédia. O Governo do Estado já está…
— Helder Barbalho (@helderbarbalho) December 10, 2023
“É muito triste perder companheiros e companheiras por não ter um lugar adequado para morar”, diz João Paulo Rodrigues, do MST.
Leonardo Sakamoto/UOL