O presidente eleito Lula (PT) afirmou nesta quinta-feira (17) que não adianta falar em responsabilidade fiscal sem antes pensar na responsabilidade social.
Lula deu a declaração no Egito, onde participa da COP27. O presidente eleito discursou em evento organizado pelo Brazil Climate Action Hub, grupo criado por organizações da sociedade civil para discutir ações climáticas.
A declaração de Lula acontece em meio à articulação do governo eleito com o Congresso Nacional para aprovar uma proposta que, entre outros pontos, autoriza as despesas do Auxílio Brasil a ficarem fora do teto de gastos. A equipe de transição argumenta que a medida é necessária para manter o benefício em R$ 600 mensais e conceder mais R$ 150 por criança de até 6 anos.
“Eu fui fazer um discurso para os deputados e eu fazia o discurso que eu dizia na campanha, sabe? Que não adianta falar em responsabilidade fiscal, a gente tem que começar a pensar em responsabilidade social”, disse o presidente eleito nesta quinta.
Lula se referiu a um discurso feito a políticos aliados em Brasília, no último dia 10, em que questionou: “Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?”.
Essa declaração gerou reação negativa entre analistas do mercado financeiro. Questionado sobre a repercussão, Lula declarou que “o mercado fica nervoso à toa”.
Ainda no discurso desta quinta, Lula disse que, se falar em responsabilidade social aumenta o dólar, “paciência”.
“Se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência. Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas é por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”, declarou.
Governo não será ‘gastador’
Nesta quarta (16), o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin afirmou que o governo Lula não será “gastador”, mas que é preciso garantir a rede de proteção social das famílias mais pobres.
Durante toda a campanha deste ano, Lula questionou por que o governo adota meta fiscal e não cria, por exemplo, meta de crescimento econômico nem meta de desenvolvimento social.
O presidente eleito tem dito que a prioridade do futuro governo será combater a fome no país — no Brasil, mais de 30 milhões de pessoas não têm o que comer.
“Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, tudo que acontece é você tirar dinheiro da saúde, tirar dinheiro da educação, tirar dinheiro da ciência e tecnologia, tirar dinheiro da cultura”, disse o presidente nesta quinta.
Lula encontra representantes de movimentos sociais brasileiros na COP 27 — Foto: JOSEPH EID / AFP
Governança global pelo clima
Ainda no pronunciamento desta quinta-feira, Lula defendeu que haja uma governança global para o cumprimento de decisões relacionadas ao clima.
Para o presidente eleito, os fóruns da ONU “não podem continuar sendo discussões teóricas intermináveis”.
“Às vezes, tenho impressão de que as decisões precisam ser cumpridas se a gente tiver um órgão de governança global que possa decidir o que fazer porque, se depender das discussões internas do Estado nacional, no Congresso Nacional, muitas coisas aprovadas sobre o clima não serão colocadas em prática”, declarou.
Lula acrescentou que “muitas vezes” o dinheiro prometido pelos países para ações climáticas “não sai”.
“Cem bilhões de dólares foram prometidos em 2009, [na cúpula] em Copenhage e, sinceramente, as pessoas parecem que esquecem. […] A dívida precisa começar a ser paga se a gente quiser criar as condições para os países que têm floresta, que ainda têm muita água potável, que têm, ainda, uma grande fauna. Ou seja, que esses países sejam recompensados para que eles possam cuidar daquilo [meio ambiente] com o carinho que a humanidade precisa e necessita”, acrescentou.
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