O documentário Areia, Memória e Cinema, de Letícia Damasceno Barreto concluiu a segunda fase das filmagens no início do mês de junho, em Areia (PB). As locações foram alguns espaços da cidade do Brejo paraibano, como o Theatro Minerva e a entrada do município, distante 300 km da capital, João Pessoa (PB).
Antes dessas gravações, foram captadas entrevistas com antigos moradores de Areia sobre suas lembranças do Cine Theatro Minerva. O filme é focado nas memórias, afetos e na relação das pessoas com o cinema e parte das vivências de avô da diretora para contar uma história sobre o amor pela Sétima Arte. Também traça um panorama histórico da cultura audiovisual no município do Brejo paraibano, conhecida como “terra da cultura”.
Gutemberg Barreto, o avô da Letícia, atuou como primeiro projecionista do Cine Theatro Minerva, entre 1920 e 1930. Foi justamente essa trajetória que a maior parte das filmagens da segunda fase focalizaram, no segmento ficcional do documentário, que reconstrói algumas vivências do cinematógrafo nesse período, que remontam mais de 100 anos de história.
“Voltar a Areia para realizar a captação da parte ficcional, foi experimentar um sonho se concretizando, com toda a atmosfera da cidade podendo vivenciar cenas ocorridas a cerca de 100 anos atrás, foi muito intenso e gratificante!”, destacou Letícia Damasceno Barreto, diretora do filme.
A neta de Gut Barreto, como ela o chama carinhosamente, revelou ter sido uma grande emoção poder reconstruir a história do avô no espaço em que ele atuou como cinematógrafo. Para personificar o projecionista, ela escalou um veterano do cinema paraibano e brasileiro, o ator Buda Lira, conhecido por filmes como Aquarius (2016) e Bacurau (2019), recentemente escalado para nova série do Amazon Prime Vídeo, Cangaço Novo (ainda sem data de estreia).
“A filmagem do ator Buda Lira entrando no “cinema” no Cine Theatro Minerva como meu avô Gut Barreto, para encenar a morte dele, emocionou toda a equipe – incluindo a mim! Foi muito forte e Buda, que já é muito semelhante ao meu avô, encarnou de forma maravilhosa, espontânea e bastante verossímil a figura de vovô Gut”, revela Letícia.
“Foi de um significado fabuloso poder me aproximar de meu avô, que basicamente não conheci. É algo indescritível”, completou ela sobre a experiência.
Performance
Dentro da proposta do filme, há também espaço para performance. Artista da dança e professora de ensino superior na área, Letícia Damasceni Barreto é também licenciada em História e atriz de formação. A ideia de incorporar algumas performances para representar sentimentos e situações vem da proposta do filme, um documentário narrado por ela, em primeira pessoa, onde a dimensão performática se faz presente.
“O filme inclui duas performances, além da encenação de meu avô em dois períodos distintos de sua vida: a primeira nos anos 1920/30 em Areia como projecionista do Cine Theatro Minerva e, a segunda, passada na década de 1960, retratando seu ritual de ida ao cinema as terças feiras no Cine Odeon no Rio de Janeiro, onde ele vem a falecer numa sessão de cinema. A respeito das performances uma é dedicada ao casal meus avós, na qual escrevi uma poesia ‘Um terço nas terças’ e danço e me expresso corporalmente”, explica Letícia.
Gutemberg, um homem de cinema
O filme “Areia, Memória e Cinema” é um documentário de curta duração cujo argumento tem como mote a figura de Gutemver Barreto e sua trajetória com o universo da sétima arte. Em 1932, o avô da cineasta se mudou de Areia para Niterói, município vizinho ao Rio de Janeiro, então capital federal.
Na cidade maravilhosa, manteve sua ligação e paixão pela Sétima Arte: todas as terças-feiras ia ao Cine Odeon, na Cinelândia, para acompanhar exibições de filmes. Não raro, pegava sessão dupla, isto é, emendava um filme no outro.
Ele atravessa a balsa que ia de Niterói para o Rio junto de esposa, Dona Edite, deixava ela à porta do Convento de Santo Antônio, onde ela assistia a missa e ia direto para o Cine Odeon, distante poucos metros da edificação religiosa, na região central carioca. Numa terça-feira como tantas outras com essa programação, algo saiu diferente: Gutemberg estava sentado imóvel em sua poltrona e uma funcionária tentou acordá-lo: em vão, o projecionista não estava dormindo, havia morrido durante a sessão de cinema.
É a partir desse evento trágico e da trajetória do avô com o cinema que a cineasta, professora do curso de Dança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), constrói o argumento do filme, que fruto do projeto de Pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV-UFPB-UFPE).
Próximas etapas
Na produção do documentário, resta ainda uma terceira etapa de filmagens e processo de edição, finalização e pós-produção. Dentro desse cronograma, o lançamento está previsto para o segundo semestre, no final de 2022.
“A próxima etapa são as gravações das cenas de estúdio, serão realizadas no estúdio da UFPB e uma outra captação será realizada no Theatro Santa Roza. O financiamento coletivo vai retomar o fôlego para impulsionar a pós-produção isto é: montagem, edição e finalização do produto audiovisual”, detalha Letícia, fazendo referência à campanha online de arrecadação de recursos para produção do filme.
Campanha de financiamento coletivo
O curta de documentário é uma obra independente, sem patrocínio ou subsídio de editais. Para viabilizar o projeto, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar parte do valor dos custos produção: é possível acessar e colaborar clicando NESSE LINK.
Também é possível colaborar com qualquer valor pela chave PIX: CPF: 703.641.257-72 | Letícia Damasceno Barreto.
Apoios
A produção conta com apoio logístico e de equipamento do Núcleo de Documentação Cinematográfica da Universidade Federal da Paraíba (NUDOC-UFPB). Também é apoiada por empreendimentos turísticos da cidade de Areia como o Hotel e Restaurante Triunfo, as pousadas Sítio Casa de Vó e Vaca Brava e o restaurante Vó Maria.
Sobre o filme
Letícia Damasceno Barreto dirige o documentário “Areia, Memória e Cinema” partindo dos rastros que seu avô deixou ao falecer no cinema Odeon no Rio de Janeiro em 1960. Eles a impulsionam a reconstruir sua trajetória: “Voltar ao destino significa eternizar”. O documentário remonta aos primórdios da memória do cinema no município de Areia, no Brejo paraibano, e a atuação do cinematógrafo Gutemberg Barreto, que atuou como projecionista no Cine Teatro Minerva entre os anos 1920/30 na cidade.
Sobre a diretora
Letícia Damasceno Barreto é artista, professora e pesquisadora, com formação em Dança Contemporânea e em Terapia através da Dança pela Escola de Dança Angel Vianna-RJ. Atuou como docente nessa mesma escola (1994 – 1999). É Doutora em Estudos Interdisciplinares em Memória Social pela UNIRIO (2014), com tese sobre Memória do Corpo, investigando a relação do corpo/objeto como dispositivos para criação de movimento. Atua como docente do curso de Dança da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, onde é professora do quadro efetivo e desde 2010 desenvolve investigações com ênfase na Consciência pelo Movimento e na criação artística. Através de um projeto interdisciplinar que tinha como carro-chefe as interfaces entre as Artes Visuais e a Dança, realizou seu primeiro filme, o documentário “Experimentação corporal como dispositivo para criação artística”, sobre o papel das expressões e performances do corpo na construção de experimentos de arte. Atualmente está com pesquisa aprovada pelo PPGAV- Programa de Pós-graduação em Artes Visuais- UFPE/UFPB e desenvolve o projeto “Areia, Memória e Cinema”, documentário que parte das memórias de seu avô, que foi projecionista do cinema do município de Areia, no Brejo paraibano, resgatando a dimensão memorial, afetiva e identitária da Sétima Arte na vida dele, dela própria e da cidade em questão.