A jornalista Chris Flores encerrou sua jornada de trabalho na última sexta-feira (18) crente de que tinha um grande furo na mão; afinal, ela entrevistara durante quase três horas a pedagoga Silvana Taques, mãe da atriz Larissa Manoela, protagonista de uma briga familiar que envolve supostos maus-tratos, eventual má gestão de recursos e a disputa por um patrimônio avaliado em R$ 18 milhões.
Nesta segunda (21), Chris começou seu dia de trabalho decepcionada com sua profissão, cansada da vida de apresentadora e repórter de programa de fofocas. Após a exibição de trechos da entrevista com Silvana Taques no Domingo Legal, a jornalista do SBT foi bombardeada por críticas precipitadas e injustas.
Antes mesmo de a entrevista ter sido exibida no Fofocalizando, que Chris apresenta, ela foi acusada de apelar ao drama barato para conseguir audiência, de atuar como advogada da “megera” do momento e até de ter recebido dinheiro para dar espaço à mãe de Larissa Manoela, que, relataram coleguinhas, teria participado da edição do material –o que o SBT nega.
Nas redes sociais, Chris foi cancelada. Houve quem desenterrasse a Grávida de Taubaté, como ficou eternizada a história da mulher que, em 2012, enganou a Record dizendo estar grávida de quadrigêmeos e mobilizando uma campanha para arrecadar doações.
Ao contrário do que fez parecer a internet, Chris não foi a ingênua que acreditou piamente em Maria Verônica Aparecida César Santos, a Grávida de Taubaté. Ela foi a primeira a desconfiar da história e teve uma discussão no camarim com a mulher, de quem exigia que mostrasse o barrigão. Foi o começo do fim da farsa.
Ao entrevistar Silvana Taques, Chris pode ter dado palco para uma mãe abusiva que se apropriou da fortuna da filha, como muitos já decidiram, mas, antes de qualquer coisa, ela fez jornalismo.
Pode-se não gostar de seu jeito “acolhedor”, de sua empatia com a entrevistada, mas não se pode negar: isso é jornalismo. Pode-se questionar se esse jornalismo é acrítico, por não exigir provas da entrevistada, pode-se questionar a estratégia novelesca do SBT, mas isso não tira o mérito da jornalista e o serviço que ela presta ao dar voz à mãe de Larissa, a não ser que você considere o jornalismo de entretenimento um lixo que deve ser banido da face da Terra.
Até agora, somente Chris e a jornalista Mônica Bergamo entrevistaram Silvana Taques, algo que centenas de colegas provavelmente tiveram vontade de fazer –e alguns poucos até tentaram. E só a Globo falou com Larissa Manoela.
Mostrar todos os lados de uma notícia, ouvir todos os personagens de uma “guerra de narrativas”, é papel primordial do Jornalismo. Aprendemos no primeiro dia de faculdade. Só não nos é ensinado na escola a passar hidratante no cotovelo.